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  • Um ano no Conselho da Harvard Business Review e a arte de decidir com humanidade

    Por Marcos Eduardo Marinho

    Em agosto de 2024, passei a integrar um espaço que não se define por títulos ou formalidades, mas por conversas que desafiam certezas.

    Ali, vozes de diferentes países e contextos se encontram para pensar o futuro das organizações, sem a pressa de encerrar perguntas e sem o receio de conviver com respostas provisórias.

    Depois de um ano imerso em artigos, pesquisas e diálogos com pessoas que unem a reflexão acadêmica ao pulso vivo da gestão, acompanhando de perto suas repercussões no cenário global, percebi que o que levo comigo vai muito além do que qualquer relatório poderia registrar.

    Três aprendizados se tornaram bússolas nesse percurso:

    • Escutar antes de agir – não para buscar consenso, mas para compreender o alcance real de uma decisão.
    • Tecnologia que preserve dignidade – inovação só vale quando sustenta vínculos e valores, não quando os sacrifica.
    • Clareza como ato de liderança – comunicar o essencial, sem ruído ou ornamento, é um gesto de cuidado e estratégia.

    Esse ciclo não apenas reafirmou, mas lapidou meu propósito de atuar na interseção entre psicologia, estratégia e foresight, lembrando-me de que decisões robustas nascem primeiro do olhar humano — e só depois encontram a tecnologia.

    Ao iniciar meu segundo ano no Conselho, sigo com a mesma inquietação:

    Como construir estratégias robustas sem perder de vista o que nos torna humanos?


  • O futuro é um ciclo de escolhas

    Marcos Marinho – Estrategista em Liderança e Transformação de Carreira | HBR Advisory Council | Fortune AIQ

    O futuro não chega com alarde ao som de trombetas. Ele se insinua pelas escolhas quase invisíveis que fazemos em conversas casuais, respostas rápidas a e-mails, olhares que demoram um segundo a mais.
    A questão não é apenas para onde vamos, mas como decidimos chegar lá — e se, no percurso, ainda reconhecemos a nossa própria voz e quem somos verdadeiramente.


    1. Valor em meio ao ruído: escolher o que importa

    Quando tudo acelera, ver o significado das coisas torna-se algo raro. Penso que num mercado bastante saturado de fórmulas, destacar-se exige menos sobrepolimento de imagem e mais entrega de algo que se mostre de forma genuína.
    Valor nasce da consistência nos gestos simples, da disciplina de uma escuta autentica, de perceber o que não foi dito e, então, agir.

    2. A arte de perguntar antes de decidir

    Informação está em todo lugar, conhecimento não.
    Manter-se atual é filtrar com intenção. Perguntar por que isso importa e aonde pode levar, antes de permitir que reconfigure sua forma de pensar.
    Uma mente que se atualiza bem evita o acúmulo, escolhe suas fontes e age por propósito, não por impulso.


    3. Proteger o que é nosso

    Estou convicto de que a inteligência artificial não apagará a experiência humana, a menos que a deixemos.
    O valor está em amplificar, não imitar. Empatia, intuição e ética ainda são nossos.
    O desafio é projetar essa relação para que a tecnologia expanda, e não desgaste ou substitua a nossa humanidade.

    4. Percepção de valor

    Valor é reflexo daquilo que acreditamos que nosso trabalho vale, e do que os outros sentem ao interagir com ele.
    Clareza somada a autenticidade é combinação difícil de falsificar. Com o tempo, confiança se constrói quando palavras, ações e a energia que deixamos num ambiente permanecem alinhadas.


    5. Resultados passados não garantem o amanhã

    O sucesso pode ser bússola ou armadilha.
    Vitórias anteriores inspiram, mas também podem nos levar à irrelevância e estagnação. Permanecer vivo no jogo é pisar onde ainda não pisamos, aprender o que ainda não sabemos.
    Logo, adaptabilidade não é só para emergências, é músculo diário.


    6. Resolver é identificar a conexão

    Estratégia não é apenas solucionar problemas, é identificar fios invisíveis entre ideias, pessoas e variáveis.
    O estrategista não só corrige, integra. Cria respostas robustas o suficiente para sustentar-se diante das demandas que chegam no dia seguinte.


    7. A linguagem do dinheiro e o peso do impacto

    O dinheiro, ou o modo como o usamos, revela o que de fato valorizamos e o tipo de influência que queremos exercer.
    Em tempos voláteis, como estes, integridade financeira é tanto ferramenta de liderança quanto posicionamento ético.
    Podemos considerar que a riqueza é a mudança que permanece depois que os números se apagam.


    8. Excelência como diálogo interno

    Excelência não é troféu para pendurar na parede, é conversa contínua com os nossos próprios padrões.
    Cada interação, contrato, e-mail, aperto de mão, pode ser vista como oportunidade de refinar, elevar e honrar o trabalho e as pessoas.
    Quando se torna cultura, espalha-se.


    9. Vantagem na era tecnológica

    A vantagem hoje não é fazer mais, é trazer aquilo que é mais humano pro centro.
    Empatia, intuição e criatividade não são “soft skills”, mas vantagens concretas. Competitividade real une percepção humana e precisão técnica.


    10. Coragem com clareza

    Aquele frio na barriga diante do desconhecido não é alerta, é sinal de crescimento.
    Clareza não é eliminar incertezas, é escolher se e como atravessá-las.
    Coragem é a ponte entre desconforto e transformação.


    Fechando o círculo

    O futuro não acontece por acaso. Ele se constrói em atos diários de intenção.
    Recusar a mediocridade. Preferir valor ao ruído. Permanecer fiel à própria essência num mundo projetado para distrair.
    Cada escolha amplifica ou corrói nosso impacto e nosso modo mais próprio de ser.

    A pergunta não é o que o futuro trará.
    É o que você levará para o futuro.


    💡 Curadoria Estratégica – Alguns achados

    Harvard Business Review: líderes que integram valores pessoais a decisões estratégicas reportam 32% mais engajamento em suas equipes.

    McKinsey: adaptabilidade é hoje a competência de liderança mais crítica para a próxima década.


    Reflexão final
    Escolhas silenciosas raramente são neutras ou ausentes de sentido. Elas não apenas determinam o próximo passo, mas redesenham o traço pelo qual seremos lembrados.
    Num tempo em que tudo parece urgente, a verdadeira vantagem não é correr mais rápido, e sim permanecer inteiro, lúcido e profundamente humano.

    📌 Pergunta para você: qual decisão quase imperceptível, tomada hoje, teria força para alterar o desenho do seu futuro?


  • A delicadeza de ser irracional nas entregas

    Nem sempre o que faz sentido à primeira vista é o que transforma a realidade. Às vezes, é o gesto “irracional”, aquele que vai além do razoável e do esperado, que realmente revela quem somos. Essa semana, compartilho uma breve reflexão sobre o valor simbólico das entregas que não se encaixam em planilhas… mas ficam na memória de quem importa.


    A delicadeza de ser irracional (quando ainda faz sentido)
    Por Marcos Marinho
    Psychologist & Strategic Advisor | HBR & Fortune AIQ Advisory Board

    Existe uma diferença fundamental entre fazer bem… e fazer com alma. Entre cumprir o esperado… e deixar uma marca.

    Gosto de acompanhar as reflexões de Seth Godin, sobre trabalho e desenvovlimento pessoal, ele escreve com uma precisão quase etnográfica sobre o comportamento humano, e sobre o fazer humano ele nomeia essa fronteira entre fazer de modo consistente e razoável e algo fora do padrão:


    “Unreasonable works precisely because most people aren’t driven to go all the way there.”


    A verdade é que vivemos cercados pelo razoável. O profissional comprometido. O líder pontual. O especialista funcional. Tudo necessário, mas raramente memorável.

    O que marca, no entanto, quase sempre vem do excesso. Um tipo de entrega que não se explica por KPIs nem se reduz a frameworks arrumadinhos. O que nos emociona carrega desmedida. Causa estranhamento. É fora da curva justamente porque foi fora do script.

    Mas essa escolha, a de ser irracional, quando importa, não é romântica. É árdua. Exige desinvestir da performance e investir na presença. Abre mão do seguro. Recusa o genérico.

    É como se disséssemos ao mundo, com nossos gestos:


    “Aqui, não otimizo. Aqui, me envolvo.”

    Porque ser irracionalmente generoso em nosso fazer não é sobre quantidade. É sobre presença.
    Ser irracionalmente atento é um tipo de escuta que sabe o que não foi dito.
    Ser irracionalmente fiel às próprias convicções é, talvez, o último luxo ético disponível.

    Nesse terreno, onde o senso comum não opera e o algoritmo não alcança, nasce o valor que não se mede: o gesto que toca o outro. O cuidado que reverbera. A marca invisível que alguns chamam de legado.

    É também aí que mora a verdadeira estratégia, aquela que não se exibe, mas se revela no detalhe.

    O que você tem feito que pareceria irracional para quem prefere métricas a significados?

    Se quiser, podemos seguir sobre esse assunto.


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  • O que te habita: o foco como gesto silencioso de soberania

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  • Fortune AIQ: um lugar de escuta no centro das transformações

    Com a serenidade que sustenta meus gestos, compartilho minha entrada, em junho, no Conselho Consultivo da Fortune AIQ — um espaço da prestigiosa Fortune, dedicado a compreender, sem euforia e sem temor, os efeitos da inteligência artificial sobre as estruturas que moldam nossas escolhas, nossas relações e nossas instituições.

    A Fortune AIQ não se limita a mapear o que a IA é capaz de fazer. Seu propósito é mais sutil — e, ao mesmo tempo, mais urgente: interrogar o que estamos fazendo de nós mesmos ao delegar decisões, sentidos e ritmos a sistemas que ainda não conhecemos por inteiro.

    É nesse terreno que se enraíza minha contribuição: pensar a tecnologia não como fetiche nem como ameaça, mas como um espelho que devolve, com mais nitidez, os impasses e fragilidades da condição humana.

    O que permanece quando tudo acelera?

    No Conselho, participo da curadoria de temas, da definição dos rumos editoriais e da escuta das questões éticas que atravessam o uso da IA em campos tão diversos quanto finanças, saúde, direito e relações de trabalho. Mais do que projetar cenários, interessa-me cultivar perguntas que nos ajudem a permanecer inteiros diante da velocidade.

    O que estamos sacrificando em nome da precisão?
    Que tipo de presença queremos preservar quando os vínculos se convertem em dados?

    Esse convite da Fortune (Fortune Media) ecoa uma linha que venho tecendo ao longo dos anos. Uma linha que atravessa minha participação, desde 2024, na rede global da Harvard Business Review Advisory Council, no World Economic Forum — por meio da Strategic Intelligence Community — e nas plataformas ANF – As Novas Formas e Nexus Insight. Em todos esses espaços, busco preservar um compromisso: lembrar que, por trás de cada algoritmo, existe sempre uma ausência que precisa ser escutada.

    É tempo de menos promessas e mais presença.
    De menos respostas automáticas e mais silêncio que permita lucidez.
    De recusar a ilusão de que pensar bem é o mesmo que calcular depressa.

    Ao integrar este conselho, levo comigo um olhar tecido na escuta, na psicologia, nas travessias de carreira e nos territórios onde o humano insiste em não desaparecer — mesmo quando tudo ao redor parece nos convidar ao contrário.

    Seguimos.


  • ❍ O fim do equilíbrio entre vida e trabalho

    Por que a dicotomia entre trabalho e vida precisa ser superada

    Por Marcos Marinho


    Há anos escuto a pergunta: como encontrar equilíbrio entre trabalho e vida pessoal?
    E a cada vez que ela aparece, percebo que talvez estejamos insistindo em um vocabulário que já não dá conta do mundo, nem de quem o habita com desejo de crescer.

    Recentemente, li um newsletter da Nataly Kelly, no linkedIn, que me trouxe uma sensação rara de alívio.
    Ela, de certo modo, desmonta a metáfora, que me incomodava já a algum tempo, do conceito de work-life balance, propondo algo mais alinhado ao nosso tempo e às pessoas que acompanho de perto: trata-se da lógica da alta performance sustentável.


    Não é sobre compensar. É sobre sustentar.

    A metáfora da balança sugere que “vida” e “trabalho” são forças opostas, travando uma disputa surda pela sua atenção. Como se amar um projeto significasse negligenciar os filhos. Ou como se tirar férias fosse sempre um sinal de desequilíbrio.

    Mas… e se o problema estiver no modo essa balança é compreendida, e não na agenda?

    O que me chamou a atenção é que Nataly propõe uma saída mais generosa: abandonar a ideia de sacrifício mútuo e pensar em termos de vida renovável. A excelência não precisa nos custar a alma. Ela pode ser uma fonte de sentido — desde que nos recarregue, em vez de nos sugar.


    A lógica dos realizadores

    Quem opera com mentalidade de crescimento não pensa em compensações lineares.
    Pensa em alavancagem. Em ritmo. Em sustentação.

    São pessoas que precisam sentir que estão em progresso para se manterem emocionalmente íntegras. Para esses perfis, a estagnação cansa mais que a intensidade.

    A pergunta então pode ser vista de outro modo:



    Como estruturar uma vida que me permita viver com presença, produzir com sentido e manter o fôlego emocional ao longo do tempo?


    Quatro deslocamentos que fazem a diferença

    1. Energia é mais valiosa do que tempo
    O dia tem 24 horas para todos. Mas os picos de energia são únicos. Saber usá-los é estratégia, não dom.
    Quem aprende a mapear seus momentos de potência e proteger seus períodos de recuperação pode avançar sem se desgastar.

    2. Sistemas superam força de vontade
    A disciplina não precisa ser heróica. Pequenas rotinas, automatismos saudáveis, processos previsíveis: é isso que mantém a consistência.
    Alta performance não nasce da força, nasce da estrutura.

    3. Recuperação é um projeto, não um prêmio
    Descansar não é parar. É renovar.
    Hobbies com metas leves, viagens com propósitos pessoais, aprendizado como prazer — tudo isso é descanso que respeita quem somos.
    Cada um com seu estilo de recuperação. Mas nunca por, ou ao acaso.

    4. Esforço precisa de alinhamento
    Nem todo esforço vale o investimento. Às vezes é preciso dizer não ao bom para ter espaço para o essencial.
    A clareza de onde colocar a energia é um ato de maturidade. De inteligência vital.


    A armadilha do modelo antigo

    O antigo modelo de equilíbrio nos leva à culpa crônica:
    — Por gostar demais do trabalho.
    — Por estar pouco presente.
    — Por se ausentar com o corpo, mas não com a mente.

    Esse script exaure, não pelo excesso de atividade, mas pela sensação constante de inadequação.
    É como se estivéssemos sempre devendo presença a algum lado da vida.


    Caráter: o sistema operacional invisível

    No fim de seu texto, Kelly entrega o que talvez seja o ponto que mais me chamou a atenção em sua proposta:
    alta performance sem caráter não se sustenta.

    E não se trata de moralismo. Trata-se mais de discernimento.
    Porque o mundo vai oferecer atalhos. E em contextos multiculturais, nem sempre o que é permitido é coerente com quem somos.

    Seu caráter, nesse contexto, é a sua bússola silenciosa.
    Ele define o que você aceita fazer quando ninguém está olhando.
    E também o que você recusa, mesmo quando parece vantajoso.


    Para concluir: menos compensação, mais construção

    O que proponho, inspirado pela leitura e pelas escutas que atravesso diariamente, é um convite à mudança no ângulo de visão:

    • Menos vigilância de horas, mais vigilância de vitalidade.
    • Menos tentativas de agradar, mais intenção nas escolhas.
    • Menos sacrifícios simbólicos, mais acordos internos sustentáveis.

    Não estamos aqui para pesar a vida em gramas.

    Estamos aqui para ocupá-la com inteireza. E, se possível, com serenidade.


    © Marcos Marinho – Psicólogo | Consultor Estratégico em Carreira e Liderança – Este texto abre e integra as publicações da série exclusiva para assinantes *Perspectivas para uma Vida Sustentável de Alta Performance* aqui mesmo no site marcosmarinho.com


  • O valor do humano na era dos algoritmos: como liderar o irreplicável

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  • O cansaço que não ruge

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  • Chegou lá. E agora?

    Edição para assinantes – 18 de junho de 2025

    Há algo de profundamente silencioso no instante posterior à conquista. Um tipo de vazio. Um eco que não esperávamos ouvir.

    Você chegou. Parabéns.
    A sala mudou de lugar. O crachá mudou de cor. O sobrenome agora é precedido de uma sigla nova. Os aplausos vieram — com emojis, brindes e afagos. No entanto, uma pergunta incômoda sussurra, entre um café e um e-mail:

    “Era isso que eu queria mesmo? E se, no fundo, eu não for exatamente essa imagem que agora esperam de mim?”

    Não se trata de síndrome do impostor, tampouco de ingratidão com a conquista que você acabou de obter. É um fenômeno mais sutil e maduro: a consciência de que a conquista não basta se ela não dialoga com o que nos move internamente.


    1. Dê nome ao hiato
      Nem sempre o vazio que se instala após uma conquista é sinal de erro. Às vezes, é apenas um espaço que se abre entre o que o mundo ao seu redor celebrou — e o que você esperava sentir de fato.

    Essa fenda entre o reconhecimento externo e o significado interno merece ser nomeada. É o primeiro gesto ético com sua própria história: reconhecer que o sucesso público pode coexistir com um silêncio privado e que talvez eles ainda estejam desalinhados.

    Talvez o nome seja mesmo “desalinho”, “exaustão simbólica” ou simplesmente “e agora?”. O importante é dar voz à sensação — porque o que não é nomeado, nos governa por dentro.


    1. Volte ao que te move, não ao que te promove
      Há degraus que subimos por coerência curricular ou um plano estruturado de carreira feito anos atrás, mas que pode não revelar o desejo verdadeiro no presente. O sentido das coisas que nos acontece raramente é uma linha reta. Ele pulsa. Ele desafia e… desalinha.

    Quais eram suas perguntas antes dos cargos? Antes das metas?
    O que fazia você vibrar quando o futuro ainda era um esboço, e ninguém esperava desempenho, apenas presença?

    Sentido não é sinônimo de ascensão. Às vezes, ele habita os desvios, os inacabados, as dúvidas. E só retorna quando voltamos a conversar com o desejo que existia antes dos títulos e posições.


    1. Transforme função em projeto de vida
      Uma função / posição é uma estrutura. Um projeto de vida é uma autoria.

    Não importa o quão estratégica seja a posição, ela ainda é um cenário, não o enredo. O que você pretende inscrever nesse novo ciclo? Qual traço seu pode deixar marcas que não cabem no organograma?

    Não espere que a organização legitime seu sentido. Crie micro espaços de autenticidade: uma escuta atenta num corredor apressado, uma pausa para olhar nos olhos, uma pergunta verdadeira que reabra o humano em nós e nos outros.

    Seu cargo é um palco, mas o texto ainda pode ser reescrito — por você.


    1. Convide pessoas para caminhar com você
      A solidão é uma armadilha frequente dos que ascendem. Espera-se deles a tal “imagem de segurança permanente”. Mas a potência do líder não está na onipotência, e sim na capacidade de manter-se humano enquanto ocupa o cargo.

    Acolha as suas dúvidas com dignidade. Compartilhe com quem sabe escutar sem tentar consertar.

    Lidere com presença, não com pose. A autenticidade, hoje, é a única forma real de influência duradoura. Permita que outros coescrevam esse novo ciclo com você — pois o que é construído a muitas mãos tende a durar mais que uma temporada de KPIs.


    1. Não adie o cuidado com o que é invisível
      Transições trazem com elas um risco implícito: o de perder-se de si enquanto tenta provar-se aos outros. É uma forma sofisticada de autoabandono e negligência consigo.

    Preserve um espaço, pelo menos um só, onde você não precise performar. Onde você possa simplesmente ser.

    Cuide da sua energia com o mesmo zelo com que cuida dos seus indicadores. Porque ela é, na verdade, o seu principal ativo estratégico. E, ao contrário do que vendem os gurus da produtividade, energia não se otimiza com planilhas, ela se regenera com significado, afeto e pausas.


    Uma pergunta para quem já chegou
    Você já sentiu isso? Um tipo de vazio inexplicável, um estranhamento, depois de uma vitória?

    Caso, sim, saiba que não está só. Esses hiatos podem ser mais do que desconfortos. Podem ser convites. Convites para resgatar quem você é por trás da função/posição. Para lembrar que sua história não é apenas uma sucessão de degraus, mas uma travessia íntima por paisagens que o currículo não descreve.

    Se quiser, escreva-me. Conte sua experiência. Ela pode ser o mapa silencioso de alguém que continua tentando entender para onde vai… após ter finalmente chegado.

    Com consideração e escuta,
    Marcos Marinho
    Psicólogo Estratégico | Trusted Advisor em Transições de Carreira
    Membro do Conselho Consultivo da Harvard Business Review


  • A decisão que não se toma sozinho

    Quando escolher exige rever o próprio mapa interno

    Quando decidir é, na verdade, um ritual de transição

    Às vezes, o que mais paralisa uma decisão não é a complexidade do cenário — mas o que ela revela sobre nós.

    Porque há escolhas que exigem não apenas uma direção… mas uma despedida.

    O dilema, muitas vezes, não está entre o certo e o errado — mas entre o que ainda serve e o que já deixou de fazer sentido.
    Entre quem fomos até aqui… e quem ainda hesitamos em nos tornar.


    A cartografia oculta das decisões

    Desde 2021, quando aprofundei meus estudos em Psicologia Financeira pela University of Chicago, minha escuta clínica e estratégica se fundiram num ponto decisivo: decisões não são apenas eventos cognitivos. São marcos emocionais.

    Ao trabalhar com lideranças, conselhos e profissionais em transição, percebo um padrão silencioso: muitas vezes, a pessoa não está paralisada por falta de informações — mas por fidelidade a uma identidade que já não lhe serve.

    Em outras palavras: escolher exige, antes de tudo, coragem para reescrever a própria narrativa.


    O risco do autoengano sofisticado

    No HBR, alguns autores tem debatido com frequência os efeitos do que chamamos de “self-deception under pressure”: decisões tomadas com racionalizações bem construídas, mas emocionalmente desalinhadas.

    No recente artigo da Harvard Business Review intitulado In Uncertain Times, Ask These Questions Before You Make a Decision”, Cheryl Strauss Einhorn propõe um filtro simples, mas profundamente estratégico:

    “Qual decisão de hoje ainda fará sentido daqui a um ano?”

    Essa pergunta exige mais do que projeção. Ela pede integridade. Convida à construção de critérios internos — ao que chamo de estrutura ética de decisão.


    A prática clínica aplicada à decisão

    Ao longo da minha trajetória, desenvolvi uma pequena bússola que compartilho com meus mentorados, líderes e conselheiros:

    Três perguntas que podem reposicionar qualquer escolha difícil:

    1. Essa decisão honra quem você se tornou — ou apenas quem você costumava ser?
    2. Qual parte sua está resistindo a essa mudança? Por quê?
    3. Quem você está tentando proteger ao adiar o inevitável?

    Decidir, em última instância, é uma forma de parar de se esconder.
    E de reconhecer que nem sempre decidimos sozinhos — há partes nossas que precisam ser ouvidas, acolhidas, integradas.


    Conclusão: decisões como expressão de integridade emocional

    Em tempos de excesso de dados e escassez de discernimento, decidir tornou-se uma competência emocional, não apenas cognitiva.

    E talvez o maior gesto de liderança interior seja este:


    Escolher com verdade — mesmo quando o caminho mais fácil parecer o da permanência.


    📬 Para refletir, compartilhar ou conversar

    Se este artigo dialoga com algum momento seu — ou de sua equipe —, escreva-me.
    Tenho atendido cada vez mais líderes em transição, conselhos em redefinição estratégica e profissionais buscando coerência interna em meio a contextos ambíguos.

    Você pode compartilhar esta reflexão com quem, como você, atua em espaços de escolha e transformação.

    Estou disponível para conversas estratégicas com quem deseja decidir com mais profundidade — e menos ruído.


Oi

Este espaço nasce do encontro entre pensamento e presença.
Aqui, investigo como as transformações do nosso tempo atravessam o trabalho, a liderança e a própria forma de existir.
Minha prática une escuta, método e imaginação para transformar complexidade em clareza e decisões em sentido.

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