
Crédito de imagem | Foto de Tahir Osman
A pressa que cobra juros
Estava pensando sobre uma crença silenciosa que circula a muito tempo: a de que velocidade é sinônimo de excelência. Seth Godin nomeia isso de hustle, um vício cultural que disfarça pressa como se fosse virtude.
A experiência nos mostra que nenhum atalho é gratuito. E no caso da glamorização do ‘Hustle’, o custo aparece no corpo, nas relações e, sobretudo, nas escolhas que tomamos quando já não conseguimos parar para pensar.
Quero desdobrar a reflexão e esclarecer um pouco o que quero dizer.
A ilusão da urgência
O hustle promete produtividade, mas entrega ansiedade. Estudos clássicos de Daniel Kahneman e Amos Tversky mostram: sob pressão, não decidimos melhor, apenas mais rápido, e quase sempre pior.
Cada decisão apressada é um pequeno pacto com o desgaste futuro. Silencioso, mas com efeito cumulativo.
Quando a exceção vira cultura
O problema não é o sprint ocasional. É torná-lo rotina. Quando a aceleração vira norma, o cuidado e o zelo passa a ser visto como ineficiência. Nesse ambiente, o que é profundo parece lento, e o que é sustentável soa “atrasado” e anacrônico.
O fato é que todos correm muito, o tempo todo. Poucos avançam.
Outra lógica é possível
Godin, em suas reflexões semanais, propõe outra via: a do trabalho deliberado. Menos ruído, mais presença. Estudos de K. Anders Ericsson sobre prática deliberada, e de Mihaly Csikszentmihalyi sobre estado de fluxo, indicam que a excelência se constrói com ritmo, não com atropelo.
Não se trata de lentidão. Trata-se de consistência. De não cair na armadilha de trocar integridade por urgência.
O tempo como ativo estratégico
Como contraponto, um levantamento feito pela consultoria global, a McKinsey, olhando somente para o mercado norte-americano, 82% dos consumidores já apontam o bem-estar como prioridade essencial de vida. Isso é uma evidência de que não se trata somente de saúde.
Dorme-se melhor. Lidera-se com mais clareza. Escolhem-se ciclos mais sustentáveis. Não por tendência, mas por estratégia. Não por moda, mas por sobrevivência.
Setores ligados à longevidade, sono e saúde mental são os que mais crescem. O mercado, os dados e a neurociência já deixaram claro: hustle não é futuro. É dívida, e com juros altos.
Em resumo
O hustle é uma corrida para lugar nenhum. Seu antídoto é a escolha consciente de um ritmo que privilegie valor real, decisões maduras e presença plena.
Nietzsche escreveu que “tudo o que é profundo ama a máscara”. Talvez, penso eu, porque o que tem substância não precisa gritar.
Para pensar esta semana
Que parte da sua rotina, pessoal ou profissional, está hoje pagando juros invisíveis por conta da pressa?
✍️ Marcos Eduardo Marinho Psychologist & Strategic Consultant Member – Harvard Business Review Advisory Council | Fortune AIQ Advisory Board | World Economic Forum – Strategic Intelligence Community

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